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29/08/2015
O “homem do Papa” na Itália suscita debate sobre imigração

O “homem do Papa” na Itália suscita debate sobre imigração

Sábado, 29 de agosto de 2015

"Galantino, de 67 anos, é secretário da poderosa Conferência Episcopal Italiana – CEI. Ele é praticamente considerado um “procurador” do Papa Francisco, em parte porque o pontífice o escolheu a dedo para este cargo, já em 2013, ignorando a maioria dos bispos do país, que haviam recomendado outros candidatos. Na terça-feira (18), Galantino foi forçado a se retirar de um evento em Trento no último minuto, dizendo que temer que a sua simples presença poderia reforçar, ainda mais, a polêmica criada ou, pelo menos, 'atrasar o retorno da calmaria a um clima exasperado inutilmente'".

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Escreve John L. Allen Jr., em artigo publicado por Crux, 19-08-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.

Alguns anos atrás, eu estava com um amigo americano, experiente vaticanista, tomando um café em Roma. Quando cheguei ao local, ele estava vasculhando os jornais locais para saber sobre uma polêmica envolvendo a Igreja italiana. Perguntei por que ele estava tão interessado naquilo que parecia ser, basicamente, um assunto interno deste país.

“Jamais se esqueça: a Itália é o departamento de P&D [pesquisa e desenvolvimento] do Vaticano”, disse ele. “Antes de correrem mundo a fora, é aqui que se tentam algumas coisas, é aqui que se testam algumas reações”.

“Quando a Igreja na Itália espirra”, continuou, “mais cedo ou mais tarde todos nós acabamos pegando um resfriado”.

Esta sabedoria tem se mantido válida, o que significa dizer que sempre vale a pena observamos as vicissitudes do que se passa na Itália, e talvez nunca mais do que nunca agora, que irrompeu uma polêmica extremamente desagradável envolvendo Dom Nunzio Galantino.

Galantino, de 67 anos, é secretário da poderosa Conferência Episcopal Italiana – CEI. Ele é praticamente considerado um “procurador” do Papa Francisco, em parte porque o pontífice o escolheu a dedo para este cargo, já em 2013, ignorando a maioria dos bispos do país, que haviam recomendado outros candidatos.

Na terça-feira (18), Galantino foi forçado a se retirar de um evento em Trento no último minuto, dizendo que temer que a sua simples presença poderia reforçar, ainda mais, a polêmica criada ou, pelo menos, “atrasar o retorno da calmaria a um clima exasperado inutilmente”.

O que colocou Galantino nesta situação foi a sua retórica afiada sobre imigração, diante do contexto da onda histórica de imigrantes que tentam chegar à Europa, onda que o jornal The Guardian chamou de “a maior crise de refugiados do mundo desde a Segunda Guerra Mundial”.

Uma agência europeia de monitoramento informou, também terça-feira, que no mês de julho 107.500 refugiados chegaram ao território da União Europeia, mais de três vezes o total para o mesmo mês do ano passado. De acordo com informações das Nações Unidas, dois terços destas pessoas advém da Síria, da Eritreia e do Afeganistão, com Darfur, Iraque, Somália e Nigéria completando a maior parte da lista dos países de origem.

Porque a Itália tende a ser onde estes carregamentos de migrantes acabam por chegar primeiro, o país está ficando com uma parcela de imigrantes muito maior na comparação com outras nações. Isso desencadeou um debate nacional forte sobre se o país deve se tornar mais restritivo nos assuntos relacionados aos imigrantes, baseado na ideia de que a situação atual seria insustentável.

É nesse contexto que Galantino surgiu como um importante representante da integração e assimilação dos refugiados, assim como um crítico severo dos movimentos contrários à imigração.

Em entrevista à Rádio Vaticano há 10 dias, logo depois que voltava de uma viagem à Jordânia, Galantino se queixou de alguns políticos que agem como “vendedores de amendoim (...) pessoas que, para conseguirem votos, dizem coisas extraordinariamente estúpidas”.

Dois dias depois, em entrevista à revista Famiglia Cristiana Galantino acusaria o governo italiano de se “ausentar” do drama da imigração, carecendo de uma estratégia coerente para integrar os migrantes de forma positiva.

“Não basta apenas salvar a vida dos migrantes no mar”, disse ele.

“As exigências para se requerer asilo levam muito tempo”, declarou o religioso. “Estamos improvisando moradias aqui e a li para estes imigrantes. Se, pelo menos, houvesse uma autorização de residência provisória, então estas pessoas poderiam trabalhar, de forma que o povo italiano não as enxergue como fardos e que não diriam que estão usufruindo dos recursos do país à custa dos italianos”.

Mais tarde, a revista Famiglia Cristiana pediu desculpas por “afiar o tom” dos comentários de Galantino. De qualquer forma, as afirmações do prelado acabaram atraindo uma forte reação. Mesmo se retirando do evento de terça-feira, o religioso não conseguiu acalmar os ânimos de alguns líderes.

Um texto que ele havia preparado para a ocasião foi lido em voz alta. Nele, o secretário dos bispos italianos dizia que a política pode ser nobre, mas acrescentou: “Não é isso o que estamos vendo hoje: um jogo de quebra-cabeças, envolvendo ambições pessoais…”.

Muitos políticos italianos, especialmente os que acreditam que o país deve ter políticas mais rígidas quanto ao acolhimento de migrantes e refugiados em seu território, obviamente já ouviram o suficiente.

Gianluca Buonanno, deputado da Liga do Norte, disse que as palavras proferidas por Galantino são um ataque ao próprio Estado, chamando o religioso de “o Judas dos anos 2000, o traidor da Itália”.

Perguntado sobre o que pensava de tudo isso, Salvini respondeu que Galantino e alguns outros bispos são “mais de esquerda do que os comunistas” e que “em vez de vestir uma batina, eles deveriam sair por aí carregando bandeiras vermelhas”.

Em parte, deve-se dizer, esta opinião pode estar sendo exagerada pelo fato de que a Itália só agora está saindo da crise da “ferragosto”, o período tradicional de férias de agosto em que não há muita coisa acontecendo no cenário político. Nesse contexto, o caso Galantino atraiu mais interesse do que poderia ter sido o caso em outro momento do ano.

No entanto, a decisão de Galantino de se retirar do evento de terça-feira foi considerado por alguns comentaristas como um sinal de que a sua crítica não estava sendo bem recebida por alguns colegas italianos. Na quarta-feira, o comentarista vaticano Luigi Accattoli escreveu que os bispos “em mais de uma ocasião, lamentaram o estilo singular de seu secretário”.

Até o momento, não houve nenhuma reação de parte do Papa Francisco, mas é seguro dizer que o pontífice está prestando atenção ao que se passa: em parte, porque ele sabe que, para melhor ou para pior, a maioria das pessoas consideram Galantino como o “homem do papa”.

Se Francisco continuar apoiando Galantino, tal apoio poderá ser interpretado por outros bispos na Itália e em todo o mundo como um sinal de que o pontífice aprova este tipo de abordagem, especialmente no tocante à imigração, tema que é uma prioridade papal e que deverá figurar em destaque na sua visita aos Estados Unidos no próximo mês.

Por outro lado, se Galantino ficar em silêncio ou se se retirar assumindo uma linguagem mais diplomática, a sua postura poderá ser recebida como um sinal de que o pontífice quer um movimento mais moderado: certamente não se afastando de apoio aos migrantes, mas evitando as percepções de estar sendo excessivamente partidário ou político.

 

Fonte:http://www.ihu.unisinos.br/noticias/545972-notas-de-roma-o-homem-do-papa-na-italia-suscita-debate-sobre-imigracao

 




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