Santa Sé não divulgou o texto integral da carta de Bento XVI

13/03/2018

por Sandro Magister

O gabinete de imprensa da Santa Sé não divulgou o texto integral da carta enviada em 7 de fevereiro por Bento XVI ao prefeito da Secretaria de Comunicação, Monsenhor Dario Edoardo Viganò.

Mas Viganò leu (ver foto) por ocasião da apresentação à imprensa da coleção "A Teologia do Papa Francesco", editada pela Editora do Vaticano e composta por onze folhetos, por diferentes autores, sobre vários aspectos do ensino escrito e oral do atual pontífice.

A carta é datada de 7 de fevereiro e é a resposta a uma carta anterior de Vigano em 12 de janeiro. Mas desde que foi lançado na tarde de 12 de março, o quinto aniversário da eleição do papa de Jorge Mario Bergoglio, chegou ao público em geral como se fosse uma espécie de "voto", mais do que bom, dado por Bento XVI ao seu sucessor no final de seu primeiro quinquênio.

Para favorecer esta interpretação está também no comunicado de imprensa emitido na ocasião pelo próprio Viganò, que citou apenas o segundo e o terceiro parágrafos.

Porém nesses dois parágrafos, Bento descarta não um, mas dois “preconceitos estupidos” tanto aquele que afirma que Francisco seria "apenas um homem prático privado de uma formação teológica ou filosófica particular", como o outro segundo o qual ele próprio, Joseph Ratzinger, seria "apenas um teórico da teologia que teria entendido pouco da vida concreta de um cristão atual".

Bento reconhece em Francisco o que é inegável: que ele teve uma profunda "formação" em teologia e filosofia. Bem como reconhece uma "continuidade interna" entre os dois pontificados, onde o adjetivo "interno" vale pelo menos tanto quanto o substantivo "continuidade", dado "todas as diferenças de estilo e temperamento ".

E então, esse último parágrafo, omitido no comunicado de imprensa em que Ratzinger, com sincero candor, evidencia seu finíssimo veto irônico. Tem que lê-lo e quem quiser entender que entenda.

A continuação, então, do texto completo da carta, do cabeçalho à assinatura final.

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Bento XVI
Papa Emérito

Reverendíssimo
Dom Dario Edoardo Viganò
Prefeito da Secretaria de Comunicação

Cidade do Vaticano
7 de fevereiro de 2018

Reverendíssimo Monsenhor,

Agradeço-lhe a sua carta cortês de 12 de Janeiro e pelo presente anexado dos onze livretos editados por Roberto Repole.

Congratulo-me com esta iniciativa que se opõe e reage contra o preconceito tolo, de acordo com o qual o papa Francisco seria apenas um homem prático privado de formação teológica ou filosófica particular, enquanto eu teria sido apenas um teórico da teologia que teria comprendido pouco da vida concreta de um cristão atual.

Os folhetos mostram, com razão, que o Papa Francisco é um homem de profunda formação filosófica e teológica e, portanto, ajuda a ver a continuidade interna entre os dois pontificados, embora com todas as diferenças de estilo e temperamento.

Porém não me sinto a escrever sobre eles uma breve e densa página teológica, porque em toda a minha vida sempre foi claro que eu escrevi e me expressei apenas sobre livros que eu tinha realmente lido. Infelizmente, embora apenas por razões físicas, não estou em condição de ler os onze folhetos num futuro próximo, porque me esperam outros compromissos que já assumi.

Tenho certeza que me compreenderá e lhe saudo cordialmente.

Seu,

Bento XVI

Fonte: http://magister.blogautore.espresso.repubblica.it/

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Não está claro por que o Vaticano não publicou o texto completo, mas apenas uma foto obscura da primeira página, com o último parágrafo coberto pelos 11 livros e a assinatura de Bento XVI no final (veja acima).

O National Catholic Register contatou ontem o secretário de Bento XVI, o Arcebispo Georg Gänswein, para esclarecimento da carta e para explicar o que significa "continuidade interna", mas ele não respondeu.

Fonte: http://www.ncregister.com/blog/edward-pentin/full-text-of-benedict-xvis-letter-to-mons.-vigano