Sinais do Reino


Notícias da Igreja
  • Voltar






14/11/2014
Diversidade ou Dissidência?

Diversidade ou Dissidência?

13/11/2014

http://rogeliolivieres.info/wp-content/uploads/2014/11/Rogelio-Livieres-Blog-1024x678.jpg

Por Dom Rogélio Livieres | Tradução: Fratres in Unum.com –

A Igreja Católica é una. Não há várias Igrejas de Cristo. Mas, se a vemos humanamente, nos parecerá que hoje convivem dentro dela modos muito contraditórios de pensar e viver a fé. Não me refiro a modos distintos de pensar e viver uma mesma fé, o qual é perfeitamente legítimo. Melhor dizendo, vemos que dentro dela se encontram distintas classes de «fé». Insisto: humanamente falando. Porque a fé católica é uma: o que sempre, o que em todas as partes, o que todos os católicos hão crido e praticado, como já dizia São Vicente de Lérins. Que foi o que ensinou Jesus Cristo e transmitiu o Magistério vivo de sua única Igreja.

Há que reconhecer, não obstante, que no interior da Igreja Católica convivem há décadas modos de pensar incompatíveis. Já o Cardeal Ratzinger o havia assinalado em seu famoso livro Informe sobre a fé, publicado em 1985. Os grupos dissidentes, em vez de sair voluntariamente da Igreja ou de que se os declare fora de sua fé e disciplina, permanecem dentro dela, em que pese a negação mesma de seus princípios mais fundamentais. Alguém tão alheio a disputas teológicas como Jean-Marie Guénois, jornalista muito simpatizante de todo tipo de mudanças dentro da Igreja, reconheceu em um recente artigo publicado em Le Fígaro, da França, que «há na Igreja cismas de fato entre muitos sacerdotes e fieis que não aceitam já a fé católica sobre a Virgem Maria, a Eucaristia, por exemplo; e que se chamam católicos quando são, mais que cristãos, autênticos protestantes… O Sínodo abre uma crise na Igreja no sentido antigo da palavra, isto é, o de impor uma eleição ou decisão… O shock do Sínodo pode ser que abra os olhos de alguns.»

Isto que assinala Guénois é evidente. Acaso não parece hoje que a Igreja é um conglomerado de crenças contraditórias, em que um padre diz uma coisa e outro outra, como sucede, por exemplo, na Comunhão Anglicana? Convivem entre nós, junto à fé católica, cismas e heresias ao largo de todo o planeta. Quem os promove advertiram que é muito mais eficiente e lucrativo manter-se dentro da Igreja, não apartar-se dela. Trabalhar desde seu interior. Assumem inclusive postos importantes em seu governo e pretendem falar em seu nome, representá-la.

Nas últimas décadas, a hierarquia da Igreja soube ir encontrando modos de sortear divisões institucionais frente a esta heterodoxia difusa expandida em muitos países, ambientes e classes sociais. Logrou-o, algumas vezes, mediante a busca de consensos através de fórmulas doutrinais mais ou menos aceitáveis para todos, ainda que diluindo desta maneira verdades que pareciam «difíceis». O certo é que inclusive nestes casos em que se fizeram valentes contribuições e precisões doutrinais (pensemos na maravilha de tantos documentos papais destas décadas), com frequência faltou firmeza na implementação, na correção disciplinar e na prática pastoral. Uma mão apagava o que havia escrito a outra.

Por exemplo, contra a corrente e sob enormes pressões dos meios de comunicação, Paulo VI reafirmou com heroísmo a moral católica em sua encíclica Humanæ Vitæ. Não obstante isso, a quem se opôs a seu ensinamento publicamente se lhes permitiu seguir atuando e pregando «como se nada ocorresse». E quantos sacerdotes e mesmo Bispos, ainda que não o criticaram publicamente, simplesmente ignoraram o Magistério do Papa no confessionário e permitiram, ou inclusive recomendaram, o uso de métodos artificiais de contracepção, assim como outras graves desordens morais!

Após mais de meio século deste estilo de governo «suave», no que não faltou a convivência com o erro doutrinal e a desobediência pastoral e disciplinar, hoje podemos ver com muito mais clareza que então que esse não foi o bom caminho que as circunstâncias exigiam, senão que, pelo contrário, foi a causa de muitos desencaminhamentos que na atualidade, lamentavelmente, alcançaram alturas e dimensões insuspeitadas. Levamos décadas de má formação em muitos seminários e faculdades teológicas. Educados neste ambiente, alguns Bispos e Cardeais durante o recente Sínodo sobre a Família deixaram a descoberto em suas opiniões muitas destas confusões em temas tão fundamentais como a família, a imoralidade intrínseca dos atos homossexuais e o adultério.

«O Sínodo abre uma crise na Igreja no sentido antigo da palavra, isto é, o de impor uma eleição ou decisão…». Estou plenamente de acordo com esta reflexão do Sr. Guénois. Todos devemos eleger e decidir. Nenhum de nós pode «deixar passar a bola». Temos que assumir nossos compromissos de fé batismais. Sejamos Bispos, sacerdotes, religiosos ou leigos. Velhos ou jovens. Formados academicamente ou com uma fé simples. Devemos, como Jesus Cristo e os Apóstolos, pregar a fé «em tempo e fora de tempo». E defendê-la dos erros e desvios, seja a nível doutrinal ou pastoral. Colocamos nisto não só a nossa salvação, senão a de muitíssimos homens e mulheres que dependem de nossa modesta ação como «servos inúteis», ainda que fieis.

Com Pedro e sob Pedro, chegou a hora de que despontem e se façam presentes santas religiosas que, como novas santas Catarinas de Sena, advirtam a hierarquia da Igreja no cumprimento de seus deveres. E de Bispos dispostos a lançar-se inteiramente na defesa da fé como modernos santos Atanásios. E de Cardeais que imitem a são Paulo e não temam denunciar os desvios, os feitos e os gestos que semeiam confusão. E de leigos que, como novos santos Tomás Morus, estejam dispostos aos mais altos sacrifícios insistindo na indissolubilidade do matrimônio, não só a nível doutrinal, mas inclusive nos casos pastorais mais difíceis e politicamente custosos. E mesmo também de crianças que, como outros santos Tarcísios, estejam dispostos a imolar-se para manter o respeito à santa Comunhão, à que só podemos aceder quando não vivemos em pecado.

Com Pedro e sob Pedro, todos devemos renovar nossos compromissos batismais e defender a integridade (sem cair em fundamentalismos) da fé católica. Santo Tomás de Aquino nos recorda que, quando se trata de falhas no que à fé e à moral, a correção fraterna deve fazer-se publicamente, para que não se difundam erros que comprometam a salvação de gente desprevenida.

Tanto o Catecismo da Igreja Católica como seu maravilhoso Compêndio, que o resume e precisa, são verdadeiras joias que podem servir-nos a todos como «mapas da fé» – para que possamos saber onde devemos parar e por que caminhos devemos avançar. É bom que os apreciemos, estudemos e os conheçamos profundamente. Devemos defender o que eles nos ensinam e corrigir os erros que possam tergiversar essas verdades. Não só no campo do doutrinário. Também no pastoral. Porque ou vivemos como pensamos, ou terminaremos pensando como vivemos.

Ao Papa Francisco lhe toca hoje essa mesma hora heroica que afrontou Paulo VI quando, a contracorrente, publicou sua Humanæ Vitæ. Ele é o custódio e o guardião supremo da doutrina e da prática da fé. Como a todos os Papas, lhe toca ser o administrador fiel que deve confirmar na fé a seus irmãos. Unamo-nos a ele e rezemos encarecidamente por ele, para acompanhá-lo com nosso amor filial nesta dura prova ante tantas pressões e confusão.

Estejamos tranquilos. Um Papa não poderia ensinar formalmente o erro. O que sim pode ocorrer, e ocorreu algumas vezes ao longo da história da Igreja, é que por meio de silêncios e omissões, de nomeações e promoções, de atos e de gestos, a autoridade contribua a que se expanda a confusão e se desanimem os crentes que estão «batalhando» nas trincheiras missionárias das periferias humanas. Ocorreu ao mesmo são Pedro, o primeiro Papa, na Galácia. Depois de afirmar no Concílio de Jerusalém a verdadeira doutrina, semeou, entretanto, a confusão na Galácia por respeitos humanos. Mas o Senhor não o abandonou: teve a graça de contar com o apoio e a correção fraterna que lhe fez são Paulo.

Amemo-nos uns aos outros na verdade. Essa verdade que, segundo a promessa de Cristo, é a única que nos fará autenticamente livres a todos.

 

Fonte:http://fratresinunum.com/2014/11/13/diversidade-ou-dissidencia/




Artigo Visto: 1283

 




Total Visitas Únicas: 6.309.732
Visitas Únicas Hoje: 500
Usuários Online: 170