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16/08/2019
SERÁ MORALMENTE LEGÍTIMO ASPIRAR A CARGOS ELEVADOS?

SERÁ MORALMENTE LEGÍTIMO ASPIRAR A CARGOS ELEVADOS?

Escutemos o Papa Pio XII, num trecho da sua encíclica "Menti Nostrae", promulgada em 23 de Setembro de 1950:

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por Pro Roma Mariana

«O primeiro impulso que deve mover o espírito sacerdotal há-de ser o de unir-se estreitamente ao Divino Redentor, para aceitar dòcilmente e em toda a sua integridade os Divinos ensinamentos, bem como aplicá-los diligentemente em todos os momentos da sua existência, de forma que a Fé seja constantemente a Luz da sua conduta e a sua conduta o reflexo da Fé.

Seguindo a Luz dessa virtude, ele terá o seu olhar fixo em Cristo e seguirá Seus ensinamentos e exemplos, ìntimamente persuadido de que para si não é suficiente limitar-se a cumprir os deveres a que estão obrigados os simples fiéis, mas DE QUE DEVE TENDER COM FORÇA CADA VEZ MAIOR ÀQUELA SANTIDADE QUE A DIGNIDADE SACERDOTAL EXIGE, SEGUNDO A ADVERTÊNCIA DA SANTA IGREJA: "OS CLÉRIGOS DEVEM LEVAR VIDA MAIS SANTA DO QUE OS LEIGOS E SERVIR PARA ESTES DE EXEMPLO NA VIRTUDE E NO MODO RECTO DE AGIR"(Cod.Dir.Can. c. 124).

Porque deriva de Cristo, deve por isso a vida sacerdotal dirigir-se toda e sempre para Ele. Nosso Senhor Jesus Cristo é o Verbo de Deus, que não desdenhou assumir a natureza humana; que viveu a Sua vida terrena para cumprir a vontade do Pai Eterno; que em torno de Si difundiu o perfume do lírio; que viveu na pobreza e "Passou fazendo o Bem e curando a todos"(At 10,38); que enfim, Se imolou como Hóstia pela Salvação dos Seus irmãos. Eis, dilectos filhos, a síntese daquela admirável vida; esforçai-vos por reproduzi-La em vós, recordando a exortação: "Dei-vos o exemplo, para que, como Eu vos fiz, assim façais também vós"(Jo 13,15).

O início da perfeição Cristã está na humildade: "Aprendei de Mim porque Sou manso e humilde de coração"(Mt 11,29). Observando a altura a que fomos elevados, pelo Baptismo e a Ordenação Sacerdotal, a consciência da nossa miséria espiritual nos deve induzir a meditar na Divina Sentença de Jesus Cristo: "Sem Mim nada podeis fazer"(Jo 15,5).

Não confie o sacerdote em suas próprias forças, nem se deslumbre com seus próprios dotes, NÃO PROCURE A ESTIMA E O LOUVOR DOS HOMENS, NÃO ASPIRE A CARGOS ELEVADOS, MAS IMITE A CRISTO, O QUAL NÃO VEIO "PARA SER SERVIDO, MAS PARA SERVIR" (Mt 20,28); e renuncie a si mesmo, consoante o ensinamento do Evangelho (Mt 16,24), apartando o espírito das coisas terrenas, para seguir mais livremente o Mestre Divino. Tudo aquilo que tem e tudo quanto é procede da Bondade e do Poder de Deus: Se pretende, portanto, gloriar-se, recorde-se das palavras do Apóstolo: "Quanto a mim, em nada me gloriarei, senão nas minhas fraquezas"(IICor 12,5).(…)
O sacerdote possui como campo da sua própria actividade tudo o que se refere à vida Sobrenatural, e é o orgão de comunicação e de incremento da mesma vida no Corpo Místico de Cristo. É necessário, por isso, que ele renuncie a "tudo quanto é do mundo"para cuidar sòmente "daquilo que é de Deus"(ICor 7,32-33). E é exactamente para estar livre das preocupações do mundo, para se dedicar todo ao serviço Divino, que a Santa Igreja estabeleceu a Lei do celibato, a fim de que ficasse sempre manifesto a todos que o sacerdote é ministro de Deus e pai das almas. Com a Lei do celibato, o sacerdote, ao invés de perder o dom e o encargo da paternidade, aumenta-o ao infinito, pois se não gera filhos para esta vida terrena e caduca, gera-os para a vida Celeste e Eterna.»

Meditemos agora nestas palavras da Sagrada Escritura:

«Em seguida não lhes bastou errarem acerca do conhecimento de Deus, mas também vivendo em grande guerra da ignorância, dão a tão grandes males o nome de paz!

Celebrando ritos infaticidas, ou mistérios clandestinos, ou furiosas orgias de ritos exóticos, não guardam puros, nem o proceder, nem as núpcias:
Um elimina o outro de emboscada, ou o ultraja com adultérios.
Há por toda a parte, numa confusão total, sangue e homicídio, latrocínio e fraude, corrupção, deslealdade, turbulência, perjúrio, vexação dos bons, ingratidão dos beneficiados, conspurcação das almas, inversão dos sexos, desordem nos matrimónios, adultérios e despudor.» LIVRO DA SABEDORIA 14, 22-27

Toda a criatura espiritual foi criada para glorificar, formal e extrìnsecamente a Deus Nosso Senhor - amando-O e servindo-O!

Os seres humanos, em particular, encontram-se na Terra, não para gozarem desordenadamente dos bens materiais, das funções que desempenhem, das honras e das criaturas em geral, MAS PARA TUDO RECTIFICAREM À LUZ SOBRENATURAL DE DEUS UNO E TRINO E TUDO A ELE CONSAGRAREM.

As riquezas, em si mesmas, não são um mal, pelo contrário, constituem um Bem, que devemos ordenar para a Glória de Deus e a Salvação das almas. São Tomás de Aquino, nos seus comentários ao Evangelho de São João, afirma que Nosso Senhor Jesus Cristo operou os Seus milagres (por exemplo: A multiplicação dos pães, as Bodas de Caná, O PRÓPRIO SANTÍSSIMO SACRAMENTO DO SEU CORPO) não criando do nada, mas edificando sobre a substância já criada; tudo para anunciar que a matéria é, em si mesma, ontològicamente, boa e sã.

Infelizmente, É A PERVERSÃO MORAL DOS HOMENS QUE TUDO CONTAMINA COM A SUA BABA IMUNDA. Nosso Senhor jamais condenou a riqueza, em si mesma, mas sim os maus ricos que a não sabem possuir, por ela se deixando, miseràvelmente, adictivamente, corromper, o que sucede quase sempre.

Com o poder sucede exactamente a mesma coisa. Como já tenho referido, no Paraíso Terrestre os homens teriam de trabalhar, embora tal lhes não fosse penoso; seriam organizados numa sociedade hierárquica, embora a autoridade nela constituída exercesse um Poder essencialmente não coactivo. Consequentemente, e ao contrário do que muita gente pensa, NA PAZ E FELICIDADE ORIGINAL EXISTIRIAM ESTRUTURAS FUNCIONAIS DE AUTORIDADE E DE PODER, MAS QUE OPERARIAM, COM, E NA LUZ SOBRENATURAL DE DEUS, SOBRE SUJEITOS IGUALMENTE IMERSOS NESSA LUZ INFINITA. Deste enquadramento se deduz que no Paraíso Terrestre o exercício da autoridade no Poder não coactivo jamais provocaria conflitos ou sequer descontentamento. DEUS SENDO, É UMA NECESSIDADE METAFÍSICA QUE HAJA O PRINCÍPIO DA AUTORIDADE.

Desgraçadamente, neste paupérrimo mundo, a autoridade e o Poder são, quase sempre, constituídos e exercidos em NEGATIVO INFERNAL. OS HOMENS PERVERSOS SERVEM-SE DO PODER, E ATÉ POR VEZES DA AUTORIDADE, QUE POSSUEM PARA COMETEREM IMPUNEMENTE OS SEUS CRIMES.

Autoridade e Poder são conceitos diferentes: Autoridade é o ascendente natural de uns homens sobre outros, que em princípio e formalmente só poderia derivar da superioridade, NA VERDADE, religiosa, moral, intelectual, cultural ou científica, MAS QUE NÓS VERIFICAMOS, MUITO FREQUENTEMENTE, PROMANAR DA MAIOR ASTÚCIA NA PRÁCTICA DO MAL. Evidentemente, aqui trata-se sòmente de uma autoridade em negativo infernal; embora possa tratar-se de uma autoridade apenas MATERIALMENTE considerada, consoante o grau de malícia dos homens. O Poder será então a faculdade efectiva de mobilizar as vontades alheias num determinado sentido e dentro de um campo de acção mais ou menos extenso. O PODER SÓ SERÁ NÃO COACTIVO SE ASSENTAR SÒMENTE, EXCLUSIVAMENTE, NA VERDADEIRA AUTORIDADE, O QUE NESTE MUNDO SÓ SERÁ POSSÍVEL EM COMUNIDADES EXTREMAMENTE PEQUENAS, PORQUE IMPLICA QUE GOVERNANTE E GOVERNADOS PARTICIPEM TODOS, EM ALTÍSSIMO GRAU, DOS BENS SOBRENATURAIS.

Neste mundo, o grau de autoridade, de verdadeira autoridade, não desemboca, automàticamente, num determinado grau correspondente de Poder, porque tal depende, essencialmente, da relação de força bruta e força armada, à disposição dos diversos grupos humanos.

Quando o autor destas linhas contava 14 anos, um seu professor de História expendeu na aula a seguinte sentença:

"Fiquem sabendo que neste mundo quem vence não é quem tem razão, mas sim quem tem força." E eu, de imediato, concluí: Se é assim, PARA QUÊ VIVER?

Contudo, à Luz Bendita da Fé Católica, sabemos que nada houve, nem haverá, de tão perseguido como a Verdade e a Santidade de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Por conseguinte, a resposta à questão que serve de epígrafe a este artigo, será: Podemos, legìtimamente, aspirar a possuirmos certa autoridade e correspondente Poder, SE TAL SERVIR, SOBRENATURALMENTE, PARA MAIOR GLÓRIA DE DEUS E SALVAÇÃO DAS ALMAS. Então, devemos solicitar a Deus Nosso Senhor para que jamais permita que sucumbamos à menor corrupção do raciocínio funcional.

Quando o Cardeal Sarto, em Agosto de 1903, foi eleito Papa, ele que havia suplicado aos Cardeais que não pensassem nele, dizendo:"Tende em conta que não aceitarei, sou indigno"; reconsiderou, declarando: "Aceito o Pontificado como uma Cruz, e como os últimos Papas que sofreram pela Santa Igreja se chamavam Pio, escolho esse nome." Mais tarde, foram-no encontrar desmaiado, e frequentemente chorava.

Mesmo um cargo civil pode, E DEVE, ser aceite com os olhos postos na Glória de Deus e na Salvação das almas. Cito, por exemplo, o Presidente Garcia Moreno do Equador, posteriormente assassinado pela maçonaria em 1875, bem como o próprio Generalíssimo Franco (1892-1975), designado chefe do Estado após a morte dos generais Sanjurjo e Molla. Recuando bastante, encontramos São Luís IX (1214-1270), Rei dos Franceses, que projectou duas Cruzadas; O Imperador Henrique II (973-1024), cuja esposa Cunegunda também foi canonizada; Fernando III o Santo (1200-1252), que unificou definitivamente os reinos de Leão e Castela. Todavia, mesmo em tempos de Cristandade, a esmagadora maioria dos Reis e Imperadores foram pessoalmente indignos, possuindo a paixão desordenadíssima do Poder e das riquezas. Tal como hoje: Os homens de partido procuram apenas servir-se do poder político para granjearem um prestígio que não merecem e para enriquecerem pessoalmente; na exacta medida em que a corrupção do raciocínio funcional na esfera política e muito mais indetectável do que idêntica corrupção na esfera administrativa.

Foi a Santa Madre Igreja, que ao longo dos séculos, incessantemente pregou o carácter EMINENTEMENTE PÚBLICO DO PODER POLÍTICO, a todos aqueles tiranos que consideravam tal poder apenas como uma coutada puramente pessoal.

Nosso Senhor ensinou-nos que a autoridade e o Poder só podem ser exercidos, objectivamente, como um serviço à comunidade, mas sempre com a finalidade suprema da Glória de Deus e da Salvação das almas. Por sua vez, a obediência a tal autoridade só se justifica e é religiosamente exigível pelos mesmos motivos - POIS SÃO A FÉ, A ESPERANÇA E A CARIDADE QUE FUNDAMENTAM A OBEDIÊNCIA, TODA A OBEDIÊNCIA, E NÃO O CONTRÁRIO.
O carácter intangível de qualquer autoridade pública, religiosa ou civil, é absolutamente indissociável do seu vínculo à Verdade e Santidade da Fé Católica.

Tanto glorifica a Deus, servindo a comunidade, aquele que legìtimamente ordena, como aquele que legìtimamente obedece. Perante o Juízo de Deus, as autoridades humanas, mesmo as mais elevadas, quer na ordem religiosa, quer na ordem civil, não podem apresentar qualquer outro título válido de Eternidade Bem-Aventurada, a não ser o próprio testemunho que prestaram de Nosso Senhor Jesus Cristo. As supremas honrarias e o grande poder que receberam na Terra, EM SI MESMAS, NADA VALEM PARA O CÉU, podendo até mesmo constituir um factor agravante da sua responsabilidade moral perante Deus Nosso Senhor. No Céu já não haverá reis nem súbditos, mas apenas almas mais ou menos santas, mas todas essencialmente santas - PORQUE NO CÉU SÓ HÁ SANTOS.

LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO

Lisboa, 15 de Agosto de 2019

Alberto Carlos Rosa Ferreira das Neves Cabral

Fonte: https://promariana.wordpress.com/2019/08/15/sera-moralmente-legitimo-aspirar-a-cargos-elevados/




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