Sinais do Reino


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07/07/2019
A INSTITUIÇÃO SOCIAL DA GULA

A INSTITUIÇÃO SOCIAL DA GULA

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas:

«Em seguida disse (Nosso Senhor) aos discípulos: É por isso que vos digo: Não vos preocupeis, quanto à vossa vida, com o que haveis de comer; nem quanto ao vosso corpo, com o que haveis de vestir (Mt 6,25//Sl 54,23), pois que a vida é mais do que o alimento e o corpo mais do que o vestuário. Reparai nos corvos: Não semeiam, nem colhem; não têm dispensa nem celeiro, e Deus sustenta-os! Quanto mais não valeis vós do que as aves! E quem de vós, com inquietar-se, pode acrescentar um côvado (0, 66m) à extensão da sua vida? Se nem as mínimas coisas podeis fazer, porque vos preocupais com as restantes? Reparai nos lírios, como crescem! Não trabalham, nem fiam. Pois eu digo-vos: Nem Salomão, com toda a sua magnificência,  se vestiu como um deles. Se Deus veste assim a erva que hoje está no campo e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós homens de pouca Fé! Não vos inquieteis com o que haveis de comer ou de beber, nem andeis ansiosos, POIS OS HOMENS DO MUNDO É QUE ANDAM À PROCURA DE TODAS ESSAS COISAS; MAS O VOSSO PAI SABE QUE TENDES NECESSIDADE DELAS. PROCURAI, ANTES, O SEU REINO, E O RESTO SER-VOS-Á DADO POR ACRÉSCIMO. Não temas, pequenino rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o Reino. Vendei os vossos bens e dai-os de esmola. Fazei para vós bolsas que não envelheçam, UM TESOURO INESGOTÁVEL NOS CÉUS, DO QUAL O LADRÃO NÃO SE APROXIMA E A TRAÇA NÃO CORRÓI (Mt 19,21). PORQUE, ONDE ESTIVER O VOSSO TESOURO, AÍ ESTARÁ TAMBÉM O VOSSO CORAÇÃO.» 

Lc 12,22-34  

Deus Nosso Senhor criou um mundo, físico e moral, em admirável e maravilhosa harmonia, Natural, Preternatural e Sobrenatural – FOI O PECADO ORIGINAL QUE O ESTRAGOU!

Sem pecado original e pecados actuais, os homens seriam como os corvos e os lírios do campo, como Nosso Senhor refere, totalmente entregues à Santa Providência e por ela conduzidos. Absolutamente toda a realidade física seria perfeitamente conforme com a realidade moral e vice-versa. É certo, que o pecado original afectou também o reino animal, pois que alguns animais se passaram a alimentar caçando outros, o que não acontecia antes, quando todos os animais comiam erva; todavia essa ferida na natureza animal é muito menos grave e aniquiladora do que aquela operada na natureza humana espiritual e racional, sendo, aliás, incorporada no próprio instinto animal, o qual constitui um princípio de ordem.  

Os teóricos das doutrinas fisiocráticas, que estão na base do liberalismo, e que ensinavam que apenas era suficiente permitir à natureza fluir e funcionar para tudo correr bem, ERRARAM, PRECISAMENTE, PORQUE NEGAVAM O PECADO ORIGINAL E OS PECADOS ACTUAIS. François Quesnay (1694-1774) que era médico e já conhecia a circulação sanguínea, pensou equiparar o admirável organismo animal ao conjunto da natureza, esquecendo-se que aí já intervém a terrível miséria moral humana, o monstruoso egoísmo, que tudo adultera. Sendo as doutrinas fisiocráticas anteriores à revolução industrial, só mais tarde se tornou ostensivo, a pessoas e intelectuais de boa fé, a natureza profunda do hediondo erro das teorias liberais, neste caso enquanto aplicadas à economia. Foi assim que a dissolução da comunidade cristã medieval, que tudo ordenava, pese embora os pecados dos homens, precipitou nos últimos seis séculos convulsões brutais, que culminando no liberalismo, degeneraram no comunismo, no nazismo e no fascismo, para desembocar na colossal orfandade da Idade pós-Cristã.

O Magistério de Nosso Senhor, acima reproduzido nesta bela passagem evangélica, deve ser interpretado, exactamente, no sentido de como o homem, que possuía tudo para um viver natural e sobrenaturalmente Bem-Aventurado, numa comunhão ubérrima com a riqueza da Criação; pelo contrário, vive pecaminosamente, espiritualmente amputado, num mundo onde muitos morrem, prematuramente, de fome, para outros morrerem, também prematuramente, por comerem em excesso.

Ainda o que revolta mais é A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GULA, com este requinte da denominada “haute cuisine”, estes despiques, nacionais e internacionais, entre cozinheiros e restaurantes, esta importância desordenadíssima que se faculta à comida e ao banquete. É claro que tudo isto é parte integrante da civilização pós-cristã; tanto mais que já não possuímos o necessário testemunho institucional de Verdade e de Santidade da nossa Mãe Igreja.

Segundo a Doutrina Católica, as nossas funções corporais, nutritivas do próprio indivíduo, bem como reprodutivas da espécie, possuem cada uma um objecto próprio, racional, para a procura do qual a natureza, criada por Deus, acrescentou um prazer sensível, sòmente legítimo se enquadrado e estimulado  pela respectiva finalidade funcional. Consequentemente, comer por comer, é pecado, o qual pode mesmo ser mortal. Peca-se sobretudo pela busca qualitativa de iguarias raras e esquisitas, pela exigência de pitéus elaborados, incorporados e saboreados muito para além da sua faculdade nutritiva normal. OS ALIMENTOS QUEREM-SE SÃOS, SIMPLES E SUFICIENTES. COMER COM PRAZER É SINAL DE SAÚDE, COMER APENAS PELO PRAZER É SINAL DE PERVERSÃO MORAL.

A gula sempre constituiu um pecado capital da humanidade, pois que os homens, esquecidos dos bens Eternos, tendem a orientar os seus desejos, EXCLUSIVA E DESORDENADAMENTE, para tudo aquilo que conseguem ver e sentir.

Cumpre assinalar um vício contrário ao da gula – QUE É O DA INSENSIBILIDADE, já referenciado por São Tomás. Houve santos que pecaram por insensibilidade, como São Bernardo de Claraval e São Francisco de Assis, entre outros. Esquecendo desordenadamente, puritanamente, que o extremo formal de uma virtude muito raramente coincide com o seu extremo material, esses santos realizaram privações que lhes arruínaram a saúde, o que certamente Deus Nosso Senhor jamais pode querer. No caso de São Francisco, foi o Cardeal Hugolino, futuro Papa Gregório IX (1227-1241), quem o chamou à razão e à verdadeira virtude, e até ulteriormente, o canonizou. Efectivamente, jejuamos para rectificar o conjunto da nossa vida corporal e espiritual, não para renegarmos uma função biológica, sem o exercício adequado da qual não podemos viver com saúde. Os Mandamentos da Lei de Deus obrigam-nos a tentar conservar a vida e a saúde, mesmo que tenhamos que lutar numa guerra justa, mesmo assim jamais podemos ser combatentes suicidas. Ninguém pode ceder a outrem, em vida, um orgão do seu próprio corpo, se isso lhe diminuir, essencialmente, a qualidade de vida. Infelizmente, os homens muito raramente possuem o sentido exacto do equilíbrio e da rectidão de vida – MAS É PRECISAMENTE AÍ QUE RESIDE A VIRTUDE, NATURAL E SOBRENATURAL. E SÒMENTE NO EXERCÍCIO DESSA VIRTUDE PODEM ENTRAR EM COMUNHÃO PROFÍCUA COM A NATUREZA, COM O SEU PRÓXIMO, E COM DEUS NOSSO SENHOR. QUEM RENEGA E REPRIME OS BENS DA CRIAÇÃO SÓ CONSEGUE DEMONSTRAR QUE NÃO POSSUI A SANTIDADE SUFICIENTE PARA OS GOVERNAR ADEQUADAMENTE.

Evidentemente, que é um tremendo erro fixar, rigìdamente, a qualidade e a quantidade que cada um dever comer. Pois tal depende da idade, da saúde, dos afazeres quotidianos, da condição económica, bem como da estrutura familiar e posição social. Exactamente também por isso, nenhuma autoridade da Santa Madre Igreja pode fixar, rigorosamente, UNIVERSALMENTE, sobretudo no aspecto quantitativo, a natureza dos jejuns. A única regra absoluta, sempre professada pela Santa Madre Igreja, É QUE NENHUMA  FORMA DE JEJUM PODE PREJUDICAR POSITIVAMENTE A SAÚDE, NEM INCAPACITAR O INDIVÍDUO PARA O EXERCÍCIO DOS SEUS AFAZERES DE ESTADO.

As funções corporais da nutrição e da reprodução, sendo exclusivas da nossa peregrinação terrena e mortal, serão absolutamente sublimadas na Eternidade, onde o nosso único e verdadeiro alimento, para o Espírito e para o Corpo ressuscitado, será a Visão Beatífica, a visão da Santíssima Trindade na Sua Intimidade Incriada, sendo a plenitude de fruição daí resultante, na Comunhão dos Santos glorificada, na Verdade e na Santidade celestialmente ratificadas, a real e Eterna sublimação da legítima função reprodutiva terrena.

LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO

Lisboa, 5 de Julho de 2019

Alberto Carlos Rosa Ferreira das Neves Cabral

Fonte:https://promariana.wordpress.com/2019/07/05/a-instituicao-social-da-gula/




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