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28/06/2018
PODERÃO OS DOGMAS DE FÉ SER OBJETO DE CONHECIMENTO CIENTÍFICO?

PODERÃO OS DOGMAS DE FÉ SER OBJETO DE CONHECIMENTO CIENTÍFICO?

Escutemos o Papa Leão XIII, em excertos da sua encíclica “Tametsi Futura,” promulgada em 1 de Novembro de 1900:

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«Talvez seja necessário demonstrar o que a experiência contìnuamente prova, e que cada um, até quando se encontra na abundância dos bens terrenos, sente profundamente dentro de si: Que não há nada fora de Deus que possa total e absolutamente satisfazer o desejo humano. O Fim do Homem é Deus, e todo este tempo que ele passa na Terra consiste sòmente numa espécie de peregrinação. Mas Cristo é o nosso “caminho” porque nesta viagem mortal tão difícil e cheia de perigos, não podemos, de nenhuma forma, chegar ao Bem Supremo, Deus, sem a Obra e a Guia de Nosso Senhor Jesus Cristo. “Ninguém vem ao Pai senão por Mim” (Jo 14,6). O que significa isso? Significa, principalmente e antes de tudo, que não se pode ir ao Pai a não ser por meio da Graça de Jesus, a qual, contudo, permaneceria infrutuosa no homem, se se descuidasse da observância dos Seus preceitos e das Suas Leis. (…)

Daqui fàcilmente aparece o que se deve esperar do erro e da soberba, daqueles que desprezada a Soberania do Redentor, COLOCAM O HOMEM ACIMA DE TODAS AS COISAS, E QUEREM O REINO ABSOLUTO E UNIVERSAL DA NATUREZA HUMANA; também se na prática não podem conseguir este reino, e até nem saibam definir bem no que ele consiste. O Reino de Jesus Cristo toma forma e consistência da Caridade Divina; o amor santo e ordenado é o fundamento e compêndio dele. Daqui necessáriamente derivam os seguintes princípios: É preciso cumprir bem o próprio dever, não se deve cometer nenhuma injustiça ao próximo, é preciso estimar as coisas terrenas COMO INFERIORES ÀS CELESTES, É PRECISO AMAR A DEUS SOBRE TODAS AS COISAS. (…)

São inumeráveis as matérias nas quais o engenho humano pode livremente mover-se para investigar e contemplar, como num campo muito fértil e próprio; e isso não sómente é consentido, mas é querido explìcitamente pela natureza. Porém é coisa ilícita e contrária à natureza NÃO QUERER MANTER A MENTE DENTRO DOS SEUS CONFINS, E ABANDONADA A NECESSÁRIA MODERAÇÃO, DESPREZAR A AUTORIDADE DE CRISTO QUE ENSINA. AQUELA DOUTRINA DA QUAL DEPENDE A SALVAÇÃO DE TODOS NÓS, QUASE TODA TIRADA DE DEUS E DAS COISAS QUE DIZEM RESPEITO À DIVINDADE: ELA NÃO É PRODUTO DA SABEDORIA HUMANA, MAS O FILHO DE DEUS A OBTEVE TODA DO PRÓPRIO PAI.»

A resposta para a questão que titula este artigo é um rotundo NÃO. Efectivamente, o mundo corruptível, o mundo de prova, onde os homens devem merecer para a Eternidade, É UM MUNDO DE FENÓMENOS; consequentemente, as verdades de Fé, por definição, não podem ser detectadas como fenómenos. As verdades de Fé só podem constituir objecto da Virtude Teologal da Fé, bem como dos Dons do Espírito Santo da Sapiência e do Entendimento. Se as verdades de Fé concorressem com os fenómenos do mundo, como mais um fenómeno, então a Fé Católica não seria Fé, mas ciência, e não mais poderia existir qualquer mérito da nossa parte.

Mesmo no que concerne aos “Preambula Fidei”, se por acaso as provas da existência de Deus envolvessem a detecção da Divindade como mais um fenómeno, então essa entidade não seria Deus, mas um fenómeno intramundano. Anàlogamente, a imortalidade da alma não pode ser alcançada por instrumentos científicos, visto constituir uma realidade transcendente e não um fenómeno. Imensos livros se têm escrito, relatando, fraudulentamente, experiências de pessoas “que morreram e voltaram”. Ora tal é completamente absurdo; uma Vez consumada a morte cerebral nunca ninguém “voltou”, e se não se registava morte cerebral é porque a pessoa não estava verdadeiramente morta, embora o coração estivesse parado. A medicina tem realizado o que até há poucos anos se pensava impossível; mas não pode concretizar algo de contraditório, tal como uma verdadeira ressurreição. Só Deus Nosso Senhor pode operar ressurreições; nenhuma natureza, nenhum ente contingente o pode fazer, salvo, muito, muito, remotamente, como causa instrumental.

O Professor Egas Moniz, neurologista português, prémio Nobel, mas materialista, como quase todos os da sua geração,  (1874-1955) afirmava nunca ter visto a alma na ponta do seu bisturi. Nem podia ver, e se acaso visse algum fenómeno que tal lhe parecesse – decerto que a alma não era, nem podia ser.

Deus Nosso Senhor, na Sua Inteligência Infinita, concebeu o mundo dos fenómenos, que é o nosso, e o além-túmulo, como realidades incomensuráveis, sem possibilidade de comunicação fenoménica entre si. SÓ DEUS NOSSO SENHOR PODE OPERAR QUALQUER COMUNICAÇÃO ENTRE ESTES DOIS MUNDOS. Recordemos as Aparições da nossa querida Mãe do Céu, do próprio Jesus Cristo, de muitos santos. Por outro lado, as almas que já estão no Purgatório podem receber de Deus espécies inteligíveis que lhes ministrem alguns conhecimentos sobre as coisas deste mundo. As almas que já se encontram no Céu, contemplam na Infinita virtualidade Divina, portando com a forma da Essência Divina, tudo o que se passa na Terra; podendo ainda obter esses conhecimentos mediante espécies inteligíveis naturais constitutivas da denominada “felicidade acidental”.

O certo é que as realidades Sobrenaturais e mesmo as naturais transcendentes (preambula Fidei) jamais se podem constituir como fenómenos positivos. E a razão profunda reside no facto de no fenómeno positivo, a representação, o objecto representado, e o objecto significado, coincidirem verdadeiramente. É que os Dogmas de Fé são de uma absoluta objectividade, mas não são fenómenos positivos. Exactamente porque na Fé Teologal Sobrenatural, a adesão da inteligência à Verdade Revelada não se produz mediante uma evidência intrínseca com que essa Verdade vincule a inteligência, mas sòmente através de um acto Sobrenatural de vontade, sustentado pela Graça de Deus, com o qual a alma se quer comprometer formalmente com a Verdade de Deus Nosso Senhor. É certo que a Fé Teologal é perfeitamente razoável, mas não é “ex ratione” mas sim “cum ratione” e “ex voluntate”. Nos “preambula Fidei”o processo é “cum voluntate” e “ex ratione” porque muito embora a prova da existência (ou melhor, do Ser) de Deus constitua um acto formal da inteligência natural (sem excluir a Graça Medicinal Preternatural), essa inteligência necessita estar ancorada num estatuto moral nobre e puro.

Questionar-se-á, mas então e quando Nosso Senhor Jesus Cristo andava pelo mundo, na Sua vida mortal, e mesmo na Sua vida gloriosa; não era Nosso Senhor, Ele próprio, um fenómeno positivo? Nossa Senhora, quando vivia neste mundo, e os Apóstolos, necessitavam de Fé Teologal como nós?

Nosso Senhor, verdadeiro Homem, viveu neste mundo, como uma realidade objectiva positiva, sem dúvida; MAS PARA RECONHECER N’ELE O VERBO ENCARNADO, SEMPRE FOI NECESSÁRIA A FÉ TEOLOGAL SOBRENATURAL, MESMO PARA NOSSA SENHORA, MESMO PARA OS APÓSTOLOS. A MORTE DE NOSSO SENHOR NA CRUZ, COMO REALIDADE REDENTORA DE TODO O GÉNERO HUMANO, SÓ PELA FÉ TEOLOGAL PODIA SER CONHECIDA, MESMO PARA NOSSA SENHORA E OS APÓSTOLOS, OS QUAIS ESTAVAM CONFIRMADOS EM GRAÇA. A RESSURREIÇÃO DE NOSSO SENHOR, SENDO UMA VERDADE OBJECTIVA, MATERIALMENTE POSITIVA, NA SUA FORMALIDADE SOBRENATURAL, SÓ PODIA SER CONHECIDA PELA FÉ TEOLOGAL, MESMO PARA NOSSA SENHORA E OS APÓSTOLOS.

Neste pobre mundo mortal, os mesmos mortais só podem atingir verdades de Ordem Sobrenatural pelas Virtudes Teologais e pelos Dons do Espírito Santo; isto é verdade mesmo para aqueles que foram testemunhas oculares da vida mortal e gloriosa de Nosso Senhor, porque só pela Fé podiam ultrapassar as suas impressões fenoménicas e alcançarem assim os Mistérios Sobrenaturais. São Tomé acreditou Sobrenaturalmente na Ressurreição de Nosso Senhor, NÃO PELA EVIDÊNCIA DO QUE VIA, MAS PORQUE DEUS O TOCOU COM SUA GRAÇA; A VISÃO FÍSICA DE JESUS CONSTITUIU A CONDIÇÃO EXTRÍNSECA PROVIDENCIAL DA ACÇÃO DA GRAÇA. OS videntes de todos os séculos, MESMO OS CONFIRMADOS EM GRAÇA, jamais ficaram dispensados da Virtude Sobrenatural da Fé. Só a Visão Santíssima da Essência Divina elimina a Fé, por sua própria natureza, e essa visão não é possível neste mundo.

A própria Parúsia Final, JÁ NÃO SERÁ UM FENÓMENO HISTÓRICO E POSITIVO – MAS SÓMENTE UMA REALIDADE RELIGIOSA E SOBRENATURAL.

Todas estas distinções não só não diminuem os Mistérios Sobrenaturais, COMO, PELO CONTRÁRIO, OS EXALTAM NA SUA ABSOLUTA OBJECTIVIDADE. Considerar as realidades do Além ao mesmo nível fenoménico-positivo das coisas deste mundo, é tornar a Santíssima Religião CATÓLICA uma coisa humana, um fenómeno como qualquer outro, e que portanto constituiria objecto adequado da ciência. A grande maioria dos católicos dos séculos XIX e XX, mesmo católicos não nominais, caíram nesse erro terrível.

Recordemos, todavia, que os fenómenos deste mundo podem constituir, e constituem efectivamente, Graças puramente naturais, quando se tornam condições extrínsecas Providenciais das Graças Sobrenaturais. Porque Deus Nosso Senhor, na Sua Infinita Sabedoria, produziu uma analogia puramente extrínseca entre a hierarquia dos fenómenos naturais e a irradição dos Bens Celestes Sobrenaturais, comunicando assim aos homens, toda a suavidade, toda a harmonia, todo o enlevo, dos Seus Eternos desígnios.

LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO

Lisboa, 1 de Agosto de 2016

Alberto Carlos Rosa Ferreira das Neves Cabral

Fonte:https://promariana.wordpress.com/2018/06/28/poderao-os-dogmas-de-fe-ser-objecto-de-conhecimento-cientifico-2/




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