Bergoglear e Discernir

18/5/18 - 8:00 am

por Fray Gerundio de Tormes

Estou preso em minha cela por alguns dias, porque meus superiores aconselharam-me a iniciar um processo de discernimento sobre minha postura crítica com algumas das coisas que estão acontecendo em Roma e no restante do cristianismo. Minhas opiniões sobre o Met Gala têm sido muito difíceis de cair em alguns ouvidos tolos e de escassez de capacidade de pensar, causando sérios protestos entre os frades mais amantes da atual situação eclesial e querendo subir em postos, agora que o Capítulo Provincial deve ser realizado. Como é frequentemente o caso, eles são tolerantes com quem pensa como eles. E eles acusam de intolerância, para todos os que discordam de seus sábios argumentos. Isso não é novidade.

Parei para pensar no avanço que a palavra discernir experimentou ao longo deste pontificado. Se o Vaticano tivesse recebido royalties pela promoção de um verbo tão irregular ou tivesse recebido uma comissão por ser um formador de opinião com esse conceito, ele não teria que emprestar os ornamentos sagrados para a Abençoada Gala; Teria sido suficiente para o Cardeal Ravasi, grande promotor, ter colocado um pingente no ouvido e uma tatuagem da nova era sob o solideo, ou para o jesuíta americano Martin ter tirado o seu biquíni do armário.

E é esse discernir que se tornou uma palavra essencial na lingüística Bergogliana e nos coletivos adjacentes.

Mas é claro que a palavra acima, tem que ser interpretada em conexão com o novo paradigma que o Espírito Santo dirige na igreja. E uma vez que o novo paradigma é essencialmente que o que antes era um pecado, pode agora ser e pode não ser, discernir vai consistir - também essencialmente -, em vir a entender que no meu caso, não é um pecado.

Esta teoria deve ser explicada claramente. Os bispos alemães entenderam isso muito bem. E mais bispos estão se juntando, conforme vai caindo a areia no relógio. A fidelidade da Hierarquia é impressionante. Mas como eu disse antes, já se tornou de uso comum para os fiéis a pé, pendentes da infalível loquacidade de Santa Marta.

Alguns de meus irmãos ficaram zangados quando expliquei essa palavra no refeitório, enquanto contemplava meu prato de repolhos cozidos e comecei a tentar discernir se os comia imediatamente ou começava a pensar em um suculento filé.

Por exemplo, eu disse aos frades: dois homossexuais muito católicos, eles vivem juntos. Quero dizer, eles vivem juntos. Você entende. E à noite, depois de rezar o Rosário na sala de estar, eles ainda estão vivendo juntos. Na manhã seguinte, eles têm que ir para a paróquia, porque é domingo e um dos dois tem que cantar na capella e o outro tem que fazer a segunda leitura, uma vez que ambos são muito queridos na paróquia. Eles são pessoas muito boas, ajudam as velhinhas a atravessar a rua, cumprimentam seus vizinhos no mercado e vendem tortas de maçã no final da missa. No momento da comunhão e enfeitiçados na Eucaristia, eles vão para a comunhão.

E nesse momento, algum tio vinagrete com tridente (ou seja, tridentino), lembra-lhes que você não pode consentir em pecado para receber o Corpo de Cristo. Então, eles, que são casal estável, acompanhado por um sacerdote preparado e de ampla experiência - desde que ele não carregue tridente nem vinagretes, e sejam mais bem para todos, - discernem que, como eles são católicos de coração, eles amam a Deus e na noite passada eles rezaram o Rosário e fizeram os dois juntos um mestrado em uma Universidade dos jesuítas sobre Elegetebei..., na verdade, não só podem aderir à comunhão, mas eles devem fazê-lo, porque o Espírito Santo lhes tem ajudado a discernir. E eis que o Espírito desperta as surpresas de Deus, como já disse Ciceroglio.

Este é apenas um exemplo, que cada um terá que aplicá-lo ao seu caso concreto. Mas suponha que este casal discerne que eles não devem receber a comunhão porque o que eles estão fazendo e vivendo em pecado não está certo. Nessa situação, o pároco que os acompanha deve instruí-los adequadamente para que aprendam a discernir como Deus pretendia. É claro que eles mal discerniram e terão que ser enviados para um campo de reeducação. Se for bem sucedido, este sacerdote será imediatamente promovido ao bispo de alguma diocese recalcitrante.

Não é de se surpreender que nas vigílias do Pentecostes seja convocado o Espírito Santo que ajude a entender essas situações homofóbicas. Com os bispos incluídos, como este artigo de adoração e libertação em Infovaticana ilustra muito bem.

É uma nova blasfêmia que dá a cor - cor do arco - íris, que nunca falha - à blasfêmia geral em que muito da Igreja estão envolvidos, enquanto Francisco diz aos budistas que sua espiritualidade é maravilhosa e que precisamos nos conhecer mutuamente; ou enquanto se "estuda" – decide com mão militar -  como com os bispos chilenos que deveriam colocar suas cabeças sob a guilhotina e fazer autocrítica, como dizem agora imitando os marxistas de antigamente, para evitar ser o verdadeiro culpado de toda a confusão que tem montado, nós sabemos quem é. A autocrítica nunca é feita pelo chefe, mas por aqueles a quem o chefe designa.

Papa Francisco no encontro inter-religioso desta terça-feira -15/05/2018 (Vatican Media) encontro entre budistas, hinduístas, jainistas e siques, em Roma, promovido pelo organismo vaticano sobre o tema “Dharma e Logos, diálogo e colaboração numa época complexa”.

E no final, o discernir já tem um sinônimo, que é bergolhear. A definição, quando a Academia Real decide, poderia ser algo mais ou menos assim. Bergoglear: Discernir em uma postura de bondade ou maldade, optar pelo mal e executá-lo. Bergoglear significa também explicar a bondade ou maldade de um ato de acordo com o contexto: de certa forma, numa Audiência Geral e de outra aos Bispos Alemães. Um caminho em uma homilia e outro a um editor de jornal.

Não só já estamos enfrentando o novo paradigma, mas sim uma nova formulação do velho princípio da Sindéresis: Discernir o Mal e seguir sua consciência para evitar o Bem. Porque neste caso, o que para os outros é o mal, para você é super-bom.

Fonte: https://adelantelafe.com/bergogliear-y-discernir/