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17/06/2016
Dietrich von Hildebrand — Não há lugar para mudanças na doutrina divinamente revelada pela Igreja

Dietrich von Hildebrand — Não há lugar para mudanças na doutrina divinamente revelada pela Igreja

À luz da eternidade, cada momento da vida — individual ou comunitária — recebe sua completa significação. Podemos fazer justiça à nossa era, portanto, somente considerando-a à luz do destino eterno do homem — à luz de Cristo.

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É claro que a Igreja enfrenta uma grave crise. Sob o nome de “a nova Igreja”, “a Igreja pós-Conciliar”, uma Igreja diferente da de Jesus Cristo está, agora, tentando estabelecer-se: uma sociedade antropocêntrica, ameaçada de apostasia imanentista que se deixa arrastar em um movi­mento de abdicação geral sob o pretexto de renovação, ecumenismo, ou de adaptação.

Henri de Lubac

FALSAS ALTERNATIVAS

Dietrich von Hildebrand (*): Quem lê a luminosa encíclica Ecclesiam Suam, do Papa Paulo VI, ou a magnífica Constituição Dogmática da Igreja, dos Padres Conciliares, só pode ficar convencido da grandeza do Concilio Vaticano II. Mas, quando se volta a tantas publicações contemporâneas — algumas delas de autoria dos teólogos, de fato, famosos, outras de teólogos de menor re­nome, outras de leigos que nos oferecem suas diletantes elucubrações teológicas — tem-se que ficar profundamente entristecido e, mesmo, cheio da mais grave apreensão. Será, realmente, difícil conceber-se maior contraste do que o existente entre os documentos oficiais do Vaticano II e as declarações superficiais, insípidas, de vários teólogos e leigos que têm brotado por toda parte, como verdadeira praga. De um lado, achamos o verdadeiro espírito de Cristo, a voz autêntica da Igreja, deparamo-nos com textos que, no fundo e na forma, respiram gloriosa atmosfera sobrenatural. De outro lado, encontramos deprimente secularização, completa perda do Sensus Supernaturalis, um charco de confusões.

A distorção da autêntica natureza do Concílio, produzida por essa epidemia de diletantismo teológico, tem sua mais forte expressão nas falsas alternativas entre as quais nos ordenam, a todos, escolher: ou aceitar a secularização da Cristandade ou negar a autoridade do Concilio.

Essas alternativas drásticas são com bastante frequência rotuladas de respostas “progressistas” e “conservadoras”. São termos que se aplicam facilmente a muitos domínios naturais, mas podem ser extremamente enganadores quando aplicados à Igreja. É da própria natureza da fé cristã e católica aderir a uma revelação divina imutável, reconhecer que, na Igreja, há algo que paira acima dos altos e baixos das culturas e do ritmo da história. A revelação divina e o Corpo Místico de Cristo diferem, completamente, do todas as entidades naturais. Ser conservador, ser tradicionalista, é, neste caso, um elemento essencial da resposta que é devida a esse fenômeno original, a Igreja. Mesmo um homem que não seja, de modo algum, conservador por temperamento e “progressista” em muitos outros pontos, deve ser conservador em sua relação ao Magistério infalível da Igreja, se pretende permanecer católico ortodoxo. É passível ser, ao mesmo tempo, progressista e católico; mas não se pode ser “progressista” a respeito da fé católica. Essa ideia de “católico progressista”, neste sentido, é uma contradição in adjecto. Infelizmente, há muitos que, hoje, já não entendem tal con­tradigo e orgulhosamente se proclamam “católicos progressistas”.

Com os rótulos de “conservadores” e “progressistas”, em realidade colocam os fiéis na situação de ter de escolher entre a oposição a qualquer renovação, oposição até mesmo à eliminação de certas coisas que se introduziram furtivamente na Igreja por fragilidade humana — como, por exemplo, o legalismo, o abstracionismo, a pressão externa em problemas de consciência, graves abusos de autoridade nos mosteiros — e uma mudança, um “progresso” na fé católica, que obviamente só pode representar seu abandono.

Mas essas alternativas são falsas, pois existe uma terceira opção, que acolhe bem as decisões oficiais do Concílio Vaticano, mas, ao mesmo tempo, rejeita enfaticamente as interpretações secularizantes que lhes são propostas pelos chamados teólogos e leigos progressistas.

Essa terceira opção baseia-se na inabalável fé em Cristo e no Magistério infalível da sua Santa Igreja. Aceita como certo que não há lugar para mudança na doutrina divinamente revelada pela Igreja. Não admite nenhuma possibilidade de mudança, exceto o “desenvolvimento” na formulação explícita do que já se achava presente na fé dos Apóstolos ou do que necessariamente daí decorre, como diz o Cardeal Newman. Sustenta esta atitude que a moralidade cristã da santidade, a moralidade revelada na Sagrada Humanidade de Cristo e em seus mandamentos e exemplificada em todos os santos, permanece a mesma para sempre. Sustenta que o objetivo de nossa existência é sermos transformados em Cristo, tornando-nos, n’Ele, criaturas novas, segundo as palavras de São Paulo: “É esta a vontade de Deus — vossa santificação.” Assevera esta posição a diferença radical entre o Reino de Deus e o saeculum. Leva em conta a luta entre o espirito de Cristo e o espirito de Satanás, através de todos os séculos, passados e futuros, até o fim do mundo. Crê que as palavras de Cristo — “se fôsseis do mundo, o mundo vos amaria como seus; mas, como não sois do mundo, porque vos escolhi do mundo, o mundo vos odeia” — são tão válidas como em qualquer época anterior.

É esta, simplesmente, a posição católica, sem nenhuma qualificação a mais. Alegra-se com toda mudança que amplia o instaurare omnia in Christo e leva a luz de Cristo aos setores da vida que foram adicionados. É de fato um encorajamento específico nos católicos e confrontar tudo com o Espírito e a Verdade de Cristo — a tempo e fora do tempo — apesar do espírito da nossa época ou de qualquer época passada. Esta renovação obedece à advertência de São Paulo: “Provai todas as coisas; guardai o que é bom.” Esta renovação aprecia, com reverência, aqueles grandes dons dos séculos cristãos que precederam, que refletem a sagrada atmosfera da Igreja — por exemplo, o Canto Gregoriano e os admiráveis hinos da Liturgia Latina.

Sustenta que isso jamais deve deixar de desempenhar grande papel em nossa Liturgia e que, em nossos dias, como no passado, tem grande missão apostólica. Acredita que as Confissões de Santo Agostinho, os escritos de São Francisco de Assis e as obras místicas de Santa Teresa d’Ávila encerram mensagem vital para todos os períodos da história. Representa atitude de profunda e filial devoção ao Santo Padre e de reverente amor à Igreja, em todos os seus aspectos; é o autêntico sentire cum ecclesia.

Deve ficar bem claro que esta terceira resposta à crise atual na Igreja não é timidamente comprometedora, mas consistente e sem rodeios. Não é saudosista, nem antecipa um futuro meramente terreno; está focalizada para a eternidade.

Assim, está apta para viver plenamente no presente, pois somente experimentamos, em plenitude, um presente efetivo quando conseguimos libertar-nos da tensão do passado e do futuro, quando já não somos prisioneiros de frenético impulso pura o momento a seguir. À luz da eternidade, cada momento da vida — individual ou comunitária — recebe sua completa significação. Podemos fazer justiça à nossa era, portanto, somente considerando-a à luz do destino eterno do homem — à luz de Cristo.

A resposta que acabamos de descrever, envolve sérios cuidados e apreensões pela atual invasão da vida da Igreja pelo secularismo. Considera a crise atual como a mais séria em toda a história da Igreja. Se bem que esteja esperançosa de que a Igreja triunfará, pois o próprio Senhor disse: “E as portas do Inferno não prevalecerão contra ela.”

(*) Hildebrand, Dietrich von. Cavalo de Troia na Cidade de Deus. pp. 18-22. Livraria Agir Editora. 1970.

Fonte: http://www.sensusfidei.com.br/2016/06/17/dietrich-von-hildebrand-nao-ha-lugar-para-mudancas-na-doutrina-divinamente-revelada-pela-igreja/




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